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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Governo cidadão

Antigo, mas em tempo...

"... Quero vir a público expressar algumas reflexões que faço sobre esta eleição.

Começo por dizer que não creio que o governo seja o fundamental em nenhuma sociedade, muito menos numa como a nossa. O poder do governo é sempre o poder dominante de uma sociedade. Sem mudar a sociedade, não adianta mudar o governo. A mudança é aparente, é uma armadilha, é uma mentira.

Por isso, meu olhar e minha atenção estão concentrados sobre a sociedade. Por isso, para mim, mais importante que o Estado é a sociedade, mais importante que qualquer governo é a Ação da Cidadania. Esse hoje é o meu credo. Entre o presidente e o cidadão, fico com o cidadão.

Meu anti-estatismo não tem a mesma origem do pensamento neoliberal. Sou crítico do Estado porque quero democratizá-lo radicalmente, submetê-lo radicalmente ao controle da sociedade, da cidadania. Não quero o Estado no planalto, mas na planície. Não quero o presidente, mas o cidadão. Não quero o salvador, mas o funcionário público eleito para gerenciar o bem comum. Para mim, as eleições de outubro não têm o caráter de definir nosso futuro. Quem decide o nosso futuro somos nós a cada dia, hora, minuto de uma ação política contínua, que não se esgota em outubro ou novembro.

Faço críticas tanto ao Fernando Henrique quanto ao Lula. Tenho e sempre fiz críticas abertas ao Fernando Henrique como Ministro da Fazenda. É óbvio que lamento profundamente suas alianças com o que existe de passado conservador e reacionário de nossa política. Mas tenho também críticas ao PT e ao Lula. O PT ainda se crê um partido único, aquele que detém a verdade, o caminho e a luz, a coerência, a ética. Essa visão que tem de si mesmo me assusta.

Apesar de não acreditar que eu vá viver muito, o fato é que atuo como se a vida não terminasse nessa eleição. Para mim, a eleição é importante, mas a história não estará sendo construída pelo Estado, seja com Fernando Henrique, seja com Lula. Não creio mais em salvadores. Creio em cidadania e por isso minha noção de tempo é diferente. Se Fernando Henrique for eleito, me terá fazendo cobranças nas horas seguintes a sua posse. Se Lula for eleito, também vai me encontrar com a mesma atitude.

Não serei governo de nenhum deles. Sei que eles são diferentes, mas essa é a minha opção."

Hebert de Souza - Betinho

O GLOBO - 18/08/1994

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