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terça-feira, 18 de março de 2008

Acreditando em governos...

Por: Zuenir Ventura
Um colega do jornal “Zero Hora”, de Porto Alegre, me telefona para repercutir a morte da Velhinha de Taubaté, que ficou famosa por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava em governo, inclusive no dos militares. Ao fazer o obituário da crédula senhora de 90 anos, seu genial criador, Luis Fernando Verissimo, contou que ela já tivera “um acidente vascular ao saber da compra de votos para FH, mas após as explicações recuperara-se”.

Agora, vinha acompanhando as CPIs e torcia por Lula, em quem evidentemente acreditava. “Acreditava principalmente no Palocci”, informou Verissimo. “Morreu na frente da TV.” Eu disse para o repórter que lamentava a morte, mas que o pior ainda estava por vir. “Se até a Velhinha de Taubaté morreu de descrença, imaginem quando o desencanto, que é mais mortal, tomar conta das pessoas.” Ele quis saber a diferença entre descrença e desencanto. Tentei explicar que o segundo sentimento é o grau terminal do primeiro, e que talvez a gente não tivesse ainda chegado lá, se é que não. Ele achou que eu estava muito pessimista, e estranhou porque tinha a impressão de que, a julgar pelo que escrevia, eu era otimista.

Admiti que de fato pesava sobre mim essa acusação. Quando nasci o destino inscrevera no meu código genético a seguinte determinação: “Vai ser otimista e careca”. (De propósito não falei em DNA, porque Marcos Valério desmoralizara até isso, ao dar o nome a uma de suas agências. Falar em DNA hoje soa tão suspeito quanto mensalão.)Disse ao meu colega jornalista que na verdade eu estava vivendo um processo de ciclotimia aguda, oscilando entre esperança (o que resta dela) e surtos de frustração que às vezes pareciam irremediáveis. Às vezes me agarrava à crença de que, como todas as crises, esta teria seu lado positivo, progressista, edificante, função pedagógica, essas coisas que podem servir de alento.

O país sairia melhor disso tudo, mais purificado após esse processo de catarse e purgação a que está sendo submetido. Mas à medida que os dias passam, as razões contrárias vão se acumulando e tapando as brechas por onde ainda se infiltram raios de esperança. Quando a CPI dos Correios foi criada (e, depois, as outras duas), seus membros repetiam que “dessa vez” tudo seria diferente e que não havia hipótese de terminar em pizza. O relator afirmava e o presidente reforçava que pensar em desfecho sem punições era um absurdo. Depois de enfrentar e derrotar as pressões do governo para impedir as investigações, as comissões estavam blindadas contra qualquer ameaça de acordo.E o que se tem ouvido de forma insistente nesses últimos dias? Que divergências entre os integrantes estariam pondo em risco as três CPIs.

A superposição de tarefas, a bateção de cabeças e a disputa dos holofotes virou uma ameaça tão concreta que o presidente do Senado, Renan Calheiros, resolveu sair em campo para apagar a fogueira de vaidades, ou “guerra”, como ele disse. Dito com todas as letras: comandada por forças governistas, uma operação abafa está em andamento.Os fatos são mais contundentes do que a retórica de negação. Oitenta dias depois de instalada, a CPI dos Correios não conseguiu sequer ouvir José Dirceu. De todos os deputados acusados de receber dinheiro sujo, apenas Roberto Jefferson sentou-se ali para depor. De onde vem a grana para o valerioduto ainda não se sabe. Dos corruptores, nem se ouviu falar. Nesse mesmo espaço de tempo, a CPI do PC, em 92, investigou, recolheu provas e recomendou a cassação de Collor.

Assim, não há otimismo que agüente.

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